Ciúme, o mal que prejudica a família

Ciúme, o mal que prejudica a família

O termo ciúme é tido como oriundo do grego ζηλόω (lê-se zêloô) e do latim zelumen, ambos com o sentido de zelo, cuidado, carinho. A psicologia enumera ao menos três tipos de ciúme:

Ciúme normal

É um ciúme aceitável de nível sadio, que faz parte do cuidado e zelo por uma relação à qual damos importância e valor (Nm 11:29; Tg 4:5). É um ciúme natural, decorrente do instinto protetor e não possessivo. Não costuma ser prejudicial a outrem.

Nesse nível nos preocupamos, adequadamente, como e onde está a pessoa que amamos e conversamos sobre limites no relacionamento. Se, por exemplo, não gosto que a esposa esteja em reuniões de lazer apenas com homens não há problema em convencionar isso com ela, desde que não haja uma preocupação ou imposição excessiva. O mesmo princípio se aplica, por reciprocidade, a que ela me peça para não dar carona sozinho a mulheres. Esse tipo de pacto ocorre justamente para evitar boatos e outros problemas no relacionamento.

Ciúme exagerado

Costuma ser invasivo e se preocupar em demasia com o outro cônjuge (Ct 8:6). Traduz insegurança e baixa autoestima. Quase sempre decorre de incompatibilidades pessoais entre os cônjuges que não adequadamente administradas nas fases iniciais do relacionamento. Ex: homem/mulher muito mais bonito/a que a/o mulher/homem, com nível social mais elevado, independente financeiramente, etc.

Em muitos casos se alia a graves problemas estruturais do desenvolvimento psicossocial do que nutre ciúmes. Reflexo da má criação, de maus exemplos familiares, entre outros fatores. Muitos relacionamentos desenvolvem ciúmes exagerados porque não se baseiam em amor, mas em paixão. Não raro, evolui para o próximo tipo.

Ciúme patológico

O ciúme patológico é mais intenso e possessivo que os demais. Tomando o exemplo da esposa ela é tratada como um mero objeto, obrigada a não se produzir para não chamar a atenção, degradada psicologicamente, isolada da família e, muitas vezes, isolada da própria sociedade.

O marido idealiza traições a cada interação com o sexo oposto. Não raro, parte para a agressão e até morte. Se ela intenta acabar o relacionamento, instaura-se o clássico: “Se não é minha, não é de mais ninguém!” como se ela fosse um mero objeto cujo dono reclama sua posse.

O ciúme na Bíblia

Por incrível que pareça a Bíblia trata do ciúme num extenso tópico sobre a administração sacerdotal dos relacionamentos (Números 5). Naquele tempo a mulher tinha pouco valor e as leis que regiam o casamento tendiam a dar razão ao homem. Na sociedade judaica era desrespeitoso a uma esposa abraçar ou beijar em público ao seu marido, também não era decoroso andar de mãos dadas com ele, adotando uma relação de submissão.

Neste contexto, uma mulher podia ser repudiada se viesse a ficar feia com o passar do tempo, por exemplo (Dt 24:1; Mc 10:4; Mt 19:8) ou não gerasse filhos, ainda que não se soubesse se a esterilidade era do homem.

Infelizmente, esta realidade tem sido replicada entre nós, servos do Senhor. Com alguma frequência se ouve falar até mesmo de líderes que espancam suas esposas, as destratam ou nutrem um ciúme excessivo, a ponto de ela não poder sair de casa, conversar com as vizinhas e familiares ou trabalhar e se maquiar.

Esse comportamento não encontra amparo bíblico. O apóstolo Paulo recomendou que as esposas sejam tratadas com cuidado e carinho (Ef 5:29-31), no mesmo patamar em que Cristo cuida de sua Igreja (Ef 5:25-28). Já Pedro recomenda que que sejam tratadas com discernimento, consideração e dignidade (1 Pe 3:7).

Efeitos do ciúme

O ciúme costuma destruir o relacionamento. Muitas vezes evolui para agressões, xingamentos. Produz filhos traumatizados por discussões e brigas. Pode resultar em quadros de depressão e ansiedade.

Prevenindo e tratando o ciúme

Devemos procurar cônjuges com as mesmas aptidões e sonhos, de preferência com pouca diferença de idade. São raros os casais em que a diferença de idade não fomenta comparações depreciativas que levam ao ciúme. Outro fator a se levar em conta é o nível social. Casais com grandes diferenças nesse aspecto tendem a ter problemas com ciúmes. Outros fatores são importantes, tais como grandes diferenças de temperamento e caráter.

O casal não deve provocar um ao outro com terceiros. Esse tipo de teste só resulta em problemas. É preciso cultivar a sinceridade, a maturidade e o amor, tanto estabelecendo limites, quanto superando alguns problemas que surgem nessa seara de forma adequada e proveitosa.

O ciumento excessivo ou patológico deve procurar tratamento médico psicológico adequado e/ou buscar a Deus em oração para que seu caráter seja moldado pelo Senhor. Outra boa providência é manter um canal de diálogo honesto e aberto, sem chantagem, com seu cônjuge, pedindo perdão um ao outro se e quando necessário.

Toda forma de controle e opressão deve ser confrontada. E, se necessário, quando o ciúme leva à agressão, por exemplo, denunciada às autoridades, de forma discreta e sábia, mas prudente e veemente. Não poucas mulheres são vítimas de ciúmes e relevam, vão afundando até se verem sem forças para tomar as providências necessárias, e são, enfim, mortas por seus parceiros possessivos.

Conclusão

Como uma palavra final recomendamos aos jovens que escolham muito bem seus cônjuges. Por vezes, o namorado ou noivo emite determinados sinais que uma vez ignorados deságua em casamentos fracassados, nos quais um dos cônjuges sobrevive ao relacionamento, sem qualquer felicidade. Não podemos perpetuar os erros do passado. É melhor viver só, do que mal acompanhado.

 

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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5 Comentários

  1. Eziel Eliodoro diz:

    Parabéns pelo comentário, pastor Daladier sempre preciso com muito embasamento teológico.

  2. Roseli Santos diz:

    Li o artigo sobre ciúmes, eu gostaria de acrescentar humildemente que os jovens crentes , comprometidos com a Palavra e convictos de seu chamado e ministério, orassem ao Senhor para que o seu cônjuge tenha o mesmo chamado, a mesma vocação e comprometimento ….. quando dois andam em acordo com certeza o ciúme será Zelo ……
    Deus abençoe ….

  3. Michel Matos diz:

    O ciúme ao meu ver é linha tênue onde de um lado está o amor e do outro o ódio. Alguém já disse que : ” O ciúme é o mau cheiro do amor”. O ser humano não sabe lidar com o ciúme, por esse motivo não vejo com bons olhos o chamado “ciúme do bem”. O apóstolo Paulo vai colocar o ciúme como obra da carne na lista de Gl.5. Tem haver com egoísmo e sentimento de posse.

    Porém Deus é um Deus zeloso\ciumento, Ele não aceita dividir Sua honra e glória com ninguém, podemos ver isto nos dois primeiros mandamentos. Ali vemos que o Seu zelo tem haver com a Sua própria honra e glória e se estende ao povo lhe pertence. Tem haver com preservação.

  4. Paz do Senhor!
    Conhecer as pretensões e objetivos do parceiro(a), é o primeiro passo para evitar as dissensões futuras advindas de conquistas pessoais ou demais situações que possam surgir.

  5. Charles rocha dos Santos diz:

    Sou professor da EBD e gastaria de receber esse conteúdo