Eli, Samuel e a prática assembleiana de “passar o cajado”!

Eli, Samuel e a prática assembleiana de “passar o cajado”!

O livro de Juízes é um amontoado de histórias tristes. Os últimos cinco capítulos retratam uma completa anomia (ausência de leis). O povo fazia o que queria. Não por acaso, o livro termina laconicamente assim: “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25).

Eli aparece, sub-repticiamente, neste contexto, mas já em 1 Samuel, quando o período dos juízes estava no final[1]. Não sabemos como assumiu o posto. Talvez pelo fato de ser sacerdote fora preenchendo o vácuo de poder com a morte de Sansão. Sua história traz um misto de drama e tragédia. Assumiu sua função num dos momentos mais críticos da história judaica como já dissemos e falhou no intento de colocar Israel nos trilhos.

Como ato final de sua trajetória melancólica perdeu seus dois filhos num só dia, caiu e quebrou o pescoço. Hofni e Finéas eram dois sacerdotes devassos e imorais. Desprezavam a oferta feita ao Senhor (1 Sm 2:17) e praticavam atos sexuais em plena Tenda da Congregação (1 Sm 2:22). Deus os havia condenado (1 Sm 2:34).

Talvez, Eli cometeu um erro básico de liderança: atribuir grandes responsabilidades a meninos espirituais. É um script conhecido. O líder que encaminhar seus filhos na liderança espiritual. Ao invés de lhes atribuir pequenas tarefas nas quais pode ser testado, vindo a aumentar gradativamente sua complexidade, dá-lhe logo uma carga tão pesada que acaba por sucumbir debaixo dela ou a desempenha de modo tão pífio que chama a atenção de todos.

Infelizmente, algo semelhante aconteceu a Samuel que, tendo desempenhado a contento seu papel de juiz, após a morte de Eli, nomeou em sua velhice seus dois filhos: Joel e Abias, como juízes em Berseba. Seus filhos se inclinaram à avareza e aceitaram suborno (1 Sm 8:3).

No meio assembleiano essa prática reprovável se tornou admissível, quando não desejável. Criou-se até o termo passar o cajado, para denominar o espetáculo bizarro. Os motivos são os mais variados: medo de perder o cetro, a prebenda, desemparar a família, esconder prontuários que desabonam o exercício ministerial, abrigar parentes com déficit de qualificação profissional e/ou espiritual, multiplicar patrimônio, inibir aspirantes ao cargo e outras das mais cabeludas justificativas.

Longe se mim jogar todos na mesma vala comum. Há, de fato, filhos, netos e parentes de presidentes capacitados e capazes. Mas com a experiência de quem já viu muito filme nesses 53 anos de vida, são a exceção, não a regra. Os resultados falam por si. Não é raro encontrar, Brasil afora, pecados de sacristia encobertos pelo parentesco, por exemplo.

O sociólogo Gedeon Alencar, lauto estudioso da realidade assembleiana, registra que nenhum dos fundadores ou líderes da primeira geração da denominação reclamou qualquer naco para si ou para sua família. Decerto, todos entendiam que estavam fazendo algo para Deus. Porém, a partir de certo ponto da História começaram a surgir, aqui e ali, iniciativas no sentido de perpetuação no poder através de filhos, netos e outros parentes.

Muitos desses herdeiros ministeriais acabaram por destruir seus ministérios, seja por escândalos, sexuais, predominantemente, carnalidade, inabilidade política (muitos nunca aprenderam a obedecer e já foram colocados em postos de comando por seus pais e avós, massacrando liderados), ambição, ganância ou incapacidade pura e simples (torraram o caixa, desterraram desafetos, etc). Alguns se deram bem do ponto de vista humano: acumularam poder, construíram fortuna e patrimônio. Bem poucos fizeram uma boa gestão eclesiástica, no sentido lato e bíblico do termo.

Infelizmente, as coisas só tendem a piorar e o que veremos é a completa normalização desta prática daninha. Já dizia ninguém menos que o Pr. Alcebíades Vasconcelos, no Mensageiro da Paz, em 1959: “O sistema de hierarquia eclesiástica que, pelo adotado, já se esboça de modo bem acentuado entre nós na Assembleia de Deus no Brasil, pois, aquilo que no Cristianismo primitivo demorou cinco séculos para se generalizar, entre nós, com outros nomes, se generalizou em apenas 40 anos e o que na igreja apóstata deste último tempo custou ainda mais tempo para vingar, entre nós, nalguns setores, já é coisa oficializada com menos de 50 anos de experiência pentecostal“. Ele se referia ao papado assembleiano, que contribuiu para o hábito de passar o cajado!

Oremos! A Bíblia está aí com seus exemplos irrefutáveis, mas quem quer aprender?

[1] Foram 14 juízes ao todo:

  1. Otoniel
  2. Eúde
  3. Sangar
  4. Débora
  5. Gideão
  6. Tolá
  7. Jair
  8. Jefté
  9. Ibsã
  10. Elom
  11. Abdom
  12. Sansão
  13. Eli
  14. Samuel

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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